domingo, 18 de outubro de 2015

Papo de astrônom@: Erika Rossetto (Embratel Star One)


A postagem de hoje é uma entrevista exclusiva sobre a carreira na Embratel Star One cedida pela mestre Erika Rossetto, uma grande amiga que conheci durante a graduação. A ideia desta entrevista surgiu ao tentar deixar a seção Quero ser astrônom@ (FAQ) mais completa. 

A minha vontade é fazer uma série de entrevistas com profissionais da astronomia, mas que não necessariamente seguiram a carreira acadêmica (a forma mais tradicional de trabalhar como astrônomo) para que os leitores do blog tenham uma visão um pouco mais universal da profissão.

A Erika foi a astrônoma escolhida para estrear esta série. Ela é bacharel e mestre em astronomia pelo Observatório do Valongo, UFRJ. Trabalha desde 2010 na Embratel Star One, onde atualmente é coordenadora do grupo de controle orbital, também chamado grupo de mecânica celeste. Desde 2013 faz parte do comitê diretor do SDA (Space data Association), uma organização que se dedica a minimizar o risco de colisão entre objetos no espaço.

Erika em visita ao museu aeroespacial de Dulles, EUA - Acervo pessoal


Alpha Lyrae (αL): Como se candidatar a um estágio na Embratel Star One?

Erika: Quando aberto um processo de seleção o candidato [aluno de graduação] deve enviar currículo ressaltando suas experiências acadêmicas, conhecimentos de informática e idiomas, previsão de formatura e quaisquer outras informações que julgue pertinentes. O processo inicial é feito pelo CIEE [Centro de Integração Empresa-Escola] e a seleção final feita pela coordenação de mecânica celeste da Embratel. O candidato pode entrar em contato através do CIEE diretamente ou com o responsável pelo grupo de mecânica celeste.

αL: Quanto ganha em média o estagiário?

E: Atualmente [outubro de 2015], a bolsa de estágio é de R$730,00 e o estagiário conta com auxílio alimentação e transporte, além de seguro de vida.

αL: Qual o tempo médio de contrato de estágio?

E: O contrato tem duração de 6 meses podendo ser renovado. Porém não é possível permanecer mais de 2 anos como estagiário de acordo com a legislação vigente.

αL: Como ser efetivado (contratado) após o término da graduação?

E: As chances de ser efetivado dependem de uma série de fatores. Contudo, é importante que o estagiário esteja formado ou muito perto de se formar para ser contratado. Estar formado aumenta significativamente as chances da contratação, porém, infelizmente, não há garantia de efetivação.

αL: Quanto é o salário inicial do profissional efetivado (contratado)? E como pode haver a progressão salarial e de cargos?

E: O salário inicial é compatívell com uma bolsa de pós-doutorado podendo variar de acordo com as qualificações do candidato. Além do salário, o funcionário conta com uma série de benefícios como: vale alimentação e refeição, plano de saúde, seguro de vida, participação nos lucros da empresa, etc. A empresa tem um programa de progressão de cargos e salários que depende do desempenho de cada funcionário.

αL: Quais são as principais diferenças - vantagens e desvantagens - de se trabalhar numa empresa privada versus instituição pública sob a sua ótica?

E: Uma das grandes vantagens do setor privado é a quantidade de benefícios adicionais ao salário que em geral os órgãos públicos não oferecem. No caso do astrônomo, uma grande vantagem é a possibilidade de ser contratado após a graduação enquanto que no setor acadêmico, em geral, é necessário terminar o doutorado no mínimo.

αL: Quais são as funções que astrônomos podem exercer na Embratel Star One?

E: Na Embratel Star One o astrônomo atua na área de controle orbital. É responsável pelo cálculo e planejamento das manobras que mantêm os satélites em suas posições adequadas. Dentro dessa tarefa, uma série de atividades é exercida, tais como: estimação e propagação de órbita; estimação e propagação da atitude do satélite (apontamento espacial); estimação e análise de consumo de combustível a cada manobra executada; etc.

αL: Qual a importância de se contratar um profissional formado em astronomia?

E: Inicialmente, o astrônomo era requerido devido ao conhecimento na área de mecânica celeste. Atualmente, não há mais formação acadêmica com foco nessa área. Entretanto, os diversos conceitos aprendidos durante a graduação faz com que o astrônomo seja o profissional mais indicado para trabalhar com controle orbital.

αL: Quais outras empresas contratam astrônomos?

E: Em geral, empresas operadoras de satélite podem contratar astrônomos para trabalharem com controle orbital. No Brasil, além da Star One há uma iniciativa do governo que pode gerar mais campo de trabalho. Atualmente essa alternativa está sob o controle da Visiona com a Telebras. No exterior há diversas empresas como Eutelsat na França, Intelsat nos EUA, SES em Luxemburgo e EUA e várias outras. Alguns fabricantes de satélites também podem contratar astrônomos. Já houve astrônomo brasileiro trabalhando na Boeing, por exemplo. Além disso, algumas empresas do setor de informática abrem espaço para astrônomos, porém nesse caso é para atuar na área de desenvolvimento de software, o que não está diretamente relacionado à astronomia.

αL: O que você mais gosta no seu trabalho?

E: Como temos um grupo somente de astrônomos aqui, a atmosfera de trabalho é bastante amigável e interessante. Além disso, esse trabalho me proporciona oportunidades de colocar em prática muitos conhecimentos adquiridos durante a vida acadêmica e também interagir com profissionais de diversas partes do mundo. 

Embora a função exercida pelo astrônomo na Embratel Star One não exija evolução acadêmica, temos aqui um aprendizado contínuo devido à complexidade dos satélites e também porque estamos sempre envolvidos com o desenvolvimento de novos programas de satélites. Além disso, dependendo do interesse de cada um é possível avançar os estudos e também pesquisar. Alguns dos integrantes do grupo concluíram mestrado enquanto já trabalhava aqui.

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Erika, muito obrigada pela sua disponibilidade!
Com certeza suas respostas ajudarão futuros astrônomos a tomarem algumas decisões. :D

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